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sexta-feira, 20 de julho de 2018

UM REINADO CANGACEIRO QUE ENCERRA SEU CICLO.

Ao amanhecer do dia 28 de julho de 1938 a Força Volante alagoana sob o comando do Tenente João Bezerra silenciosamente se aproxima da Grota do Angico localizada nos limites da antiga Fazenda Forquilha (Atual Fazenda Angico), na época pertencente ao município sergipano de Porto da Folha, local onde Lampião e parte de seu bando encontravam-se acoitados. Por volta das cinco horas da manhã quando a tropa ainda se posicionava para fechar o cerco ao bando, um tiro é disparado, transformando aquele pedaço de chão em uma amostra do inferno.

Uma incessante saraivada de tiros são disparados pelos soldados contra os cangaceiros, muitos deles ainda deitados. O fator surpresa, muitas vezes executado por Lampião e seus comandados contra seus inimigos, agora era a principal arma adversária. Pegos de surpresa os cangaceiros não tiveram tempo de se organizarem para uma possível desforra. Uma tímida e desproporcional reação é executada por alguns cangaceiros, mas diante do avanço e do poderio bélico da Força Volante a única e sensata decisão tomada naquele momento pelos cangaceiros, ainda sobreviventes, era fugir daquele local.

O resultado foram doze mortos. Onze cangaceiros, entre estes Lampião e Maria Bonita e o Soldado Volante Adrião Pedro de Souza, membro da tropa comandada pelo Aspirante Francisco Ferreira de Melo. Francisco Ferreira de Melo, que segundo consta na história, impulsionado pela bebida, foi um dos mais tenazes e ferozes combatentes, naquela manhã fria de 28 de julho de 1938 em Angico.

Cessado o tiroteio os soldados avançaram sobre os corpos dos cangaceiros, executaram alguns que ainda sobreviviam e saquearam seus bens. Em seguida os mortos foram degolados e suas cabeças seguiram junto com a tropa rumo à cidade de Piranhas em Alagoas, onde foram fotografadas e permaneceram expostas ao público até serem transportadas em cortejo por várias cidades até chegarem à Maceió, onde foram analisadas por legistas. Em Maceió, após passarem por análises, as cabeças dos nove cangaceiros mortos foram enterradas em uma cova coletiva em um cemitério público local, enquanto as cabeças de Lampião e de Maria Bonita foram enviadas para o Instituto Médico Legal Dr. Nina Rodrigues em Salvador, Bahia, onde permaneceram expostas ao público no Museu da instituição até fevereiro de 1969, permanecendo trinta anos, seis meses e nove dias insepultas.

As cabeças de Lampião e de Maria Bonita e as cabeças de outros cangaceiros que se encontravam também expostas no mesmo museu foram sepultadas no Cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, Bahia. Colocando fim em uma longa batalha judicial travada pelas famílias que buscavam na justiça o enterro dos restos mortais de seus entes.

Geraldo Antônio de Souza Júnior


Cabeças dos cangaceiros mortos em Angico. No primeiro degrau de baixo para cima
vemos a cabeça de Lampião e logo acima a cabeça de sua companheira, Maria Bonita.

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