VOLTA SECA NO RIO
A VERDADE SOBRE LAMPEÃO E SEU BANDO DE CANGACEIROS.
O ex-bandoleiro dirá tudo o que sabe – Uma lição para os
moços, a história do homem que foi condenado a mais de cem anos de prisão –
Agora, Volta Seca é uma pessoa como outra qualquer – A infância desassistida
caminha para o vício e para o crime.
- Vim contar a verdade sobre minha vida e sobre Lampeão –
declarou, ontem perante uma dezena de repórteres e fotógrafos, ao desembarcar
no aeroporto do Gaeão, o ex-cangaceiro “Volta Seca”.
Depois de cumprir 20 anos de cadeia, na penitenciária da
Bahia, Antônio dos Santos (Este é o seu nome verdadeiro), transformou-se num
homem de bem, apto a gozar do convívio da sociedade. Durante o longo
segregamento, a que a mentalidade mudou por completo e ele aprendeu que a vida
do seu semelhante é um dom precioso que os homens não devem destruir pelos
imperativos das leis humanas e divinas.
FRUTOS DE UMA ÉPOCA
Volta Seca foi nada mais nada menos que o fruto de uma época
de fome e desespero. Aos 11 anos já era bandido, triste condição de uma
infância desamparada e desassistida que caminha, quase sempre, para o vício e
para o crime. Na idade em que se vai à escola. Volta Seca entrou para o
cangaço, aprendeu a matar seus semelhantes, a cumprir ordens sanguinárias sem
titubear, e incutiram-lhe no espírito toda sorte de venenos capazes de
aniquilar os bons sentimentos e extirpar do coração as raízes da honestidade
instintiva de todo ser humano.
NÃO ERA MAU
Mas, Volta Seca não era mau. Apenas foi desencaminhado. E um
dia, fugiu do bando e deixou-se prender, num local distante do interior
nordestino, por fazendeiros que o entregaram à polícia.
Foi condenado, antes dos vinte anos, a mais de um século de
prisão.
RECUPERAÇÃO MORAL
No dia em que resolveu abandonar o grupo de Virgulino
“Lampeão”, que os cantadores nordestinos chamavam “de Rei do Cangaço e
Interventor do Sertão”, deu o grande passo para a sua recuperação moral e
social.
CONTARÁ SUA VIDA
Hoje em dia, ele não gosta de falar no que praticou, no
começo da vida, mas a história de suas aventuras, de sua iniciação no mundo
hediondo do cangaceirismo, dos seus erros e dos seus crimes será contada dentro
de breve dias aos leitores dos “Diários Associados”, que promoveram a sua
viagem da Bahia ao Rio, em páginas fortes, porque Volta Seca não encobrirá a
verdade para parecer melhor do que foi.
UMA LIÇÃO
Há, também na história do famoso ex-bandido, uma lição para
os moços: o drama da sua regeneração, na cadeia onde ele sentia despertar na
alma a vontade de ser bom e digno, igual aos seus semelhantes.
Fora do ambiente maléfico em que passou os primeiros anos da
juventude, tornou-se uma pessoa diferente, como prova de que a substância mais
íntima dos homens pode ser implantada e desviada de suas direções naturais,
mas, na primeira oportunidade, reage avassaladoramente e estabelece espírito as
bases de uma nova linha de conduta afastada às condições interiores.
GRATIDÃO
Volta Seca, desde o primeiro dia de sua libertação, graças a
um indulto concedido pelo presidente Getúlio Vargas que só pensava em vir ao
Rio, agradecer o seu perdão, o que para ele representava um verdadeiro milagre:
- Dê no que der – comunicou aos repórteres – não volto para
a Bahia enquanto não apertar a mão do dr. Getúlio Vargas.
Continua...
Matéria do Jornal Diário da Noite (Rio de Janeiro/RJ) – Ano:
1952.
Transcrição: Geraldo Antônio de Souza Júnior
Volta Seca, homem pacífico, agora só tem uma mania: Briga de Galo. Ei-lo com o seu campeão preferido. (Diário da Noite) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário