Sabemos que o termo pin-up tem grande influência nos Estados Unidos, pois foi lá, a região responsável pelo seu boom. Mas, como sabemos que esse é um tema bem abrangente e permite brincar com várias vertentes e nacionalidades, resolvemos trazer uma referência feminina brasileira para esse universo: Maria Bonita, a Rainha do Cangaço.
Como o Universo Retrô tem a missão de manter histórias vivas, sentimos que esse é um tema pouco explorado por aqui. Não só o tema do cangaço, como a próprio história do Brasil é deixada de lado e somos incentivados a nos aprofundar em temáticas mais internacionais, inclusive, na moda, onde estão as maiores referências da estética retrô.
PIN-UP E CANGACEIRA. O QUE TEM A VER?
Os cangaceiros, que ficaram fortemente conhecidos na década de 1920 e 1930 no sertão do nordeste brasileiro com o bando de Lampião, estavam longe da estética pin-up. Inclusive, o termo ainda nem tinha explodido na época, o único contato com uma estética mais glamourosa era através do cinema, que ainda era escasso na região.
Mas, como referência feminina, Maria Gomes de Oliveira, ou Maria da Déa, que depois de sua morte ficou conhecida como Maria Bonita, a primeira mulher a participar do grupo e abrir as portas para novas integrantes, tem se tornado referência de força e resistência feminina no sertão brasileiro.
Como já vimos em "As Mudanças do Universo das Pin-Ups ao Longo do Anos", sabemos que o termo nasceu como arte e vem se transformando em um movimento de lifestyle e moda composto por mulheres que cultuam a estética do passado e tentam resgatar e manter viva a memória de grandes personalidades femininas.
No caso do cangaço, é Maria Bonita a maior referência. Mulher de personalidade, transgressora para seu tempo, pioneira – tornou-se a primeira mulher cangaceira por escolha e não porque foi obrigada (uma das poucas, infelizmente) -, e virou a rainha do cangaço, em um espaço fortemente masculino.
Apesar de não ter consciência nenhuma de classe, gênero ou política e nem ser um ambiente com muita união feminina entre as mulheres que faziam parte do grupo (parece que Dadá, companheira de Corisco, não era muito chegada na rainha), o fato de estarem onde estavam e como estavam, já era um ato de luta e resistência.
A ESTÉTICA DO CANGAÇO.
Mesmo com alguns registros do cangaço feito por diversos fotógrafos, o sírio Benjamin Abrahão, foi o único a conseguir fazer registros em foto e vídeo do bando de Lampião, que deu sua permissão. Sem esses registros, a estética do grupo ficaria apenas no imaginário do povo brasileiro. Mas, graças aos seus cliques, mesmo que poucos (muito material foi perdido) e com pouca qualidade, devido à época, a estética do cangaço até hoje é inspiração para o mundo da moda.
Suas roupas em tons marrom ou cáqui, tinham função de proteger do sol e dos espinhos e precisavam facilitar a locomoção. Cartucheiras, bordados, estrelas de couro, alpercatas, jóias, acessórios e, claro, o chapéu – maior ícone do “movimento” – compunham o dress code do cangaço, que virou um símbolo cultural do sertão e que inspirou não só a moda, mas diversas expressões artísticas como músicas, cordel, cinema e literatura.
No caso de Maria Bonita, ela estava sempre coberta de jóias, anéis em praticamente todos os dedos, muitas correntes em volta do pescoço e brincos de ouro, eram alguns dos acessórios que faziam parte de sua vestimenta.
XAXADO, A MÚSICA DO CANGAÇO
Além do visual, a música também foi bem presente na história do cangaço. O xaxado foi uma dança muito disseminada pelos cangaceiros que a executava para celebrar suas vitórias. Como originou-se em um período que ainda não havia mulheres no cangaço, iniciou-se como uma dança masculina. Feita para dançar sozinho, a arma era a dama dos cangaceiros.
Aproveitamos a oportunidade, fizemos uma playlist especial com músicas clássicas de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, representantes da música nordestina e que têm Lampião como grande inspiração, entre outros artistas. E mais alguns clássicos, em que Maria Bonita e Lampião foram inspiração.
CANGACEIROS E DEVOTOS: O CANGAÇO RELIGIOSO
Para finalizar, apesar da imagem contraditória dos cangaceiros, muitos viam como Robin Hood do nordeste, enquanto outros enxergavam como bandidos sanguinários, além da estética e música, que representam bem o bando, os cangaceiros eram homens de fé, devotos do catolicismo, sendo Padre Cícero, um dos homens santo para Lampião.
Daise Alves.
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