Inácio Carvalho de Oliveira ou simplesmente “Inacinho”, como assim é conhecido, filho do casal cangaceiro Moreno (Antônio Ignácio da Silva) e Durvinha (Durvalina Gomes de Sá) que no passado integraram as fileiras do célebre cangaceiro Lampião, nasceu nas mediações do município pernambucano de Tacaratu.
Nasceu no dia 03 de janeiro de 1938, quando seus pais ainda atuavam no cangaço. Após seu nascimento permaneceu com o casal em meio à caatinga por aproximadamente um mês até ser entregue para adoção. Inacinho foi entregue aos cuidados do Padre Frederico da cidade de Tacaratu/PE, cidade natal de Moreno, por quem foi criado e educado.
Após esse dia demorariam sessenta e cinco anos até que o reencontro entre pais e filho acontecesse.
No dia 02 de fevereiro de 1940, Moreno e Durvinha abandonaram o cangaço e seguiram em fuga em busca de um novo recomeço, porém dessa vez longe das armas. Caminharam 1.352 quilômetros, durante noventa dias, até finalmente chegarem ao estado de Minas Gerais, onde moraram em algumas cidades, até fixarem residência na capital, Belo Horizonte.
Como forma de se protegerem, Moreno e Durvinha mudaram seus nomes. Moreno cujo nome verdadeiro era Antônio Ignácio da Silva passa a se chamar “José Antônio Souto” e Durvinha (Durvalina Gomes de Sá) teve o nome alterado para “Maria Jovina Maria da Conceição”. A partir de então mantiveram suas vidas passadas em total sigilo, inclusive dos filhos, nascidos pós-cangaço.
Enquanto isso Inacinho cresce e toma conhecimento de que era filho adotivo do Padre Frederico Araújo e por fim descobre sua verdadeira origem, nascendo a partir de então o desejo insaciável de encontrar seus pais.
Inacinho buscou durante anos por pistas e informações que o levasse ao encontro de seus pais. Uma busca repleta de dificuldades e incertezas que perdurou por décadas, mas que mesmo não fizeram Inacinho desistir de seu intento.
Em Minas Gerais, Moreno e Durvinha tiveram outros filhos e tocaram adiante suas vidas. Os filhos crescem e começam os questionamentos.
Perguntas sobre suas origens e demais familiares são frequentes no ambiente familiar. Moreno e Durvinha procuram a todo custo evitar falar sobre suas vidas passadas e com respostas vagas esquivam-se dos questionamentos dos filhos.
Certo dia uma filha do casal chamada Neli Maria da Conceição encontra uma fotografia de Inacinho que fora oferecida pelo Padre Frederico Araujo ao casal, ainda durante a época em que estes estavam no cangaço e através desse achado foi descoberta a existência de Inacinho.
Neli Maria da Conceição, filha do casal, busca a todo custo localizar o irmão deixado em Pernambuco por seus pais. As únicas pistas que possuía eram o estado de origem e os nomes do irmão e do tutor (Padre Frederico Araújo). Faltava localizar a cidade onde moravam, já que o antigo casal cangaceiro dificultava e evitava transmitir a informação, provavelmente como forma de proteção à família, vez que Moreno tinha ciência da gravidade dos crimes praticados por ele enquanto esteve no cangaço.
O tempo passa e o casal decide contar aos filhos o segredo até então guardado sobre suas vidas passadas. A família finalmente descobre que seus pais pertenceram no passado ao bando de Lampião. O passado ressurge e os personagens da história cangaceira novamente surgem em cena.
A filha do casal começa a realizar chamadas telefônicas para várias cidades do estado de Pernambuco, até que em uma dessas realiza uma ligação para um posto telefônico da cidade de Tacaratu e se depara com uma vaga informação, mas que poderia ser a peça que faltava para montar o quebra-cabeça.
Um novo telefonema em uma nova data é realizado e os irmãos Neli e Inacinho, ainda repletos de dúvidas, conversam pela primeira vez e através dessa conversa descobre-se então que Inacinho era realmente o filho de Moreno e Durvinha.
Ansioso, Inacinho se prepara o mais rápido possível e parte ao encontro de seus pais na cidade de Belo Horizonte/MG, onde após sessenta e cinco anos, pais e filho puderam se encontrar e se abraçarem mutuamente.
A família finalmente estava completa e reunida.
Na época do acontecimento (2005) o descobrimento do casal cangaceiro se transformou em manchete em vários meios de comunicação do Brasil, tendo inclusive a história sobre suas vidas retratada em Livro “Moreno e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço” do amigo escritor/pesquisador João de Sousa Lima e no documentário “Os últimos cangaceiros” do cineasta/documentarista cearense Wolney Oliveira.
Estive há algum tempo atrás com Inacinho na cidade de Belo Horizonte/MG e registrei todo seu depoimento que inclusive encontra-se disponível em meu canal do Youtube com o título “Filhos do Cangaço – Inácio Carvalho Oliveira “Inácinho” – Filho do casal cangaceiro Moreno e Durvinha”.
Se morássemos em um país que valorizasse a sua cultura e seu povo, histórias como essa já teriam sido “aproveitadas” pelo cinema e pela teledramaturgia nacional.
Enfim... Uma história de vida digna de filme hollywoodiano.
Geraldo Antônio de Souza Júnior
Inácio Carvalho de Oliveira "Inacinho" filho do casal cangaceiro Moreno e Durvinha do bando de Lampião. |
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