Seguidores:

sábado, 30 de setembro de 2017



 RESENHA SOBRE O LIVRO "CAPITÃES DO FIM DO MUNDO - AS TROPAS VOLANTES PERNAMBUCANAS (1922 - 1938)"



De autoria do amigo e confrade André Carneiro de Albuquerque.


“Capitães do Fim do Mundo – As tropas volantes pernambucanas (1922-1938)”


Por: Laércio Lima (1)


“(...) a obra do poeta não consiste em contar o que aconteceu, mas sim coisas quais podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da verossimilhança ou da necessidade. Não é em metrificar ou não que diferem o historiador e o poeta; (...) a diferença está em que um narra acontecimentos e o outro, fatos quais podiam acontecer.”


Aristóteles, em A Poética clássica, cap. IX
É fato que a Literatura já esteve em um status sacro na Grécia Antiga. De tal modo que nomes como Horácio versaram sobre sua indispensável existência à condição humana, e epistemologicamente, diante da pluralidade de perspectivas que a Literatura enseja no processo de historicização e desenvolvimento social. Todavia, é com Platão que a ótica singular e a valorização da racionalidade se vislumbra em contrapartida às “verdades alicerçadas nas perspectivas dos sentidos”, como tratava Homero. A ótica platônica semeia o gérmen do pensamento filosófico, científico, histórico.


É nessa condição que encontramos a narrativa “histórico-literária” de Capitães do Fim do Mundo. Essa coerente construção sequencial nos traz à tona seja por meio dos fatos apresentados, quer seja pela precisão de suas fontes ou ainda pela peculiar descrição que se manifesta de maneira tão vivaz e convidativa, elucidativa. Uma minuciosa visão sobre um marco de nossa história conterrânea, capitulada com tamanha justeza e sagacidade como o é o sertanejo cangaceiro.


Retratadas em tantas obras literárias, televisivas e cinematográficas, as histórias sobre o cangaço contra os “macacos” do governo, como eram chamadas as Tropas Volantes, como em “Mandacaru”, adaptação do dramaturgo Carlos Alberto Raton, o mote conflitivo que reside em Capitães do Fim do Mundo nos traz uma visibilidade mais sensível de toda a “disgracença” que era a peleja sertaneja entre as Forças de Segurança Pública pernambucana e os bandos cangaceiros, a partir de uma conotação mais versossimilhante, pragmática.


As caracterizações explanadas de forma tão pontuais e tangíveis pelo forte teor descritivo da obra, faz-nos perceber toda expressividade visceral do autor, no sentido de não só transmitir, mas de impregnar assim como o suor e a poeira do sertão, não apenas relatos, dados e fontes históricas, mas também as vivências autorais experienciadas no semi-árido, numa sequência tão bem elaborada que nos faz seguir as trilhas, rotas e entrepostos comerciais demarcadores da narrativa, acompanhando via trem somado ao lombo de uma montaria ou ainda pelas águas do Velho Chico, as ações policiais no encalço do cangaço.


Que Capitães de Fim do Mundo é uma obra essencialmente histórica não há dúvidas. Mas é certo que a impactante narrativa traz “fendas” para o literário, para o imaginário, de tal forma que no decorrer da prosa, o leitor se vê de alguma maneira projetando mimeticamente a vila (ou seria a Vida?) sertaneja, através do povo de Nazaré. Isso se torna mais do que fácil de se concretizar dada a carga cultural que temos que nos fornece alguma anedota, algum conto ou “causo” interioriano, e que intertextualmente se agarra a nossa mente num plano imaginário do que é o sertão, o cangaço, as Tropas, tal intimamente ligados quanto era o desejo do nazareno “mais cruel opositor de bandidos’ a ingressar na Força Pública (...)”, em aniquilar a atuação do grupo de Virgulino, como nos apresenta o autor no capítulo “A farda e a luta”.


Assim, Capitães do Fim do Mundo articula uma discussão que nos proporciona tamanho prazer de leitura que não há necessidade de categorização ou distinção de público-alvo ou competências sócio-comunicativas especiais para sentir o apurado trabalho realizado. O que precisamos é de uma boa rede e um bom café adoçado com rapadura para o deleite na viagem interiorana e interiorizada de nossa cultura sertaneja, tão racional e historicamente explanada pelas pesquisas e palavras do professor e mestre André Carneiro.


1. Pedagogo (UPE), graduando em Letras-Português (UFPE) e pós-graduando em Linguística aplicada na Educação (UCAM-PROMINAS). Supervisor escolar da rede municipal de ensino do Moreno, Professor de Produção textual e Coordenador de Apoio ao Discente do Intensivo Preparatórios.



Nenhum comentário:

Postar um comentário